Número de adolescentes com sobrepeso e obesidade aumenta quase 300% em 10 anos em Bauru e Marília
19/09/2025
(Foto: Reprodução) Obesidade infantil supera desnutrição pela 1ª vez, aponta Unicef
Uma alimentação baseada em fast food, lanches ultraprocessados e refeições açucaradas fez com que, pela primeira vez na história, o número de crianças com obesidade no mundo todo superasse o de crianças com subnutrição, segundo um relatório divulgado em setembro deste ano pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
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O documento Alimentando o lucro: como os ambientes alimentares estão falhando com as crianças baseou-se em dados de mais de 190 países e confirmou que, regionalmente, os adolescentes de Bauru (SP) e Marília (SP) também passaram a integrar o preocupante cenário do sobrepeso e obesidade, conforme um estudo com base nos dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do SUS (Sisvan).
Um levantamento feito pelo g1 com base nesses dados traz o cenário das duas maiores cidades do centro-oeste paulista e mostra como os especialistas avaliam as problemáticas e soluções para essa condição.
🍎 Desnutrição e sobrepeso
Conforme a Unicef, a oferta de alimentos com altos índices de gordura trans, ultraprocessados e com quantidades excessivas de açúcar e sal adicionado estão, em escala global, mais acessíveis às crianças.
Essa exposição a ambientes alimentares não saudáveis afeta igualmente as crianças com excesso de peso e subnutrição, pois elas substituem a alimentação tradicional por alimentos importados, baratos e altamente calóricos, que não contribuem para uma dieta balanceada e nutritiva.
Obesidade supera desnutrição pela primeira vez na história, segundo a Unicef
Reprodução/Pexels
Ainda segundo a Unicef, no Brasil, a obesidade superou a desnutrição como o tipo de má nutrição mais comum desde antes do ano 2000.
Renata Kruger, nutricionista especializada em nutrição materno-infantil, seletividade alimentar e nutrição aplicada ao autista de Bauru), explica também quais são os alertas para a condição.
"Os principais sinais de sobrepeso e obesidade infantil são IMC elevado para a idade, ganho de peso rápido, cansaço, falta de energia, às vezes dores nas articulações e dificuldade para respirar."
Renata Kruger, nutricionista especializada em nutrição materno-infantil, seletividade alimentar e nutrição aplicada ao autista de Bauru (SP)
Divulgação
Conforme a análise de dados feita pelo g1 com base nos dados do Sisvan, houve um aumento de aproximadamente 283% no número absoluto de adolescentes (de 10 a 19 anos) com excesso de peso/obesidade entre 2014 e 2024 no município de Bauru.
Já em Marília, o aumento registrado foi de aproximadamente 277%, também conforme o número absoluto de adolescentes (10 a 19 anos).
Por outro lado, tanto em Bauru quanto em Marília, o número de crianças de até cinco anos com obesidade e sobrepeso diminuiu, com redução proporcional de 45% e 52%, respectivamente.
Nesse contexto geracional, Renata também explica como o uso de telas influencia a relação da criança e do adolescente com a comida, incluindo o excesso de estímulos dentro das redes sociais, que podem causar ansiedade e, consequentemente, episódios de compulsão alimentar.
"As telas podem ser prejudiciais para as crianças, principalmente quando elas sentam de frente para a televisão ou para o celular para se alimentar. Nesse momento, ela não presta atenção no que ela está comendo, o que faz com que ela não consiga identificar se ela está saciada ou não. Fora que um consumo excessivo de tela contribui muito para o sedentarismo, já que a criança fica mais tempo parada e menos tempo brincando, correndo, praticando esportes", esclarece.
Renata Kruger, nutricionista especializada em nutrição materno-infantil, seletividade alimentar e nutrição aplicada ao autista de Bauru (SP)
Divulgação
Thiago Viana, médico do esporte e nutrólogo, destaca que questões hormonais também podem estar relacionadas aos casos de sobrepeso e obesidade.
"Hormônios como os da tireoide, a insulina, a leptina e a grelina influenciam diretamente no controle de peso. Alterações nesses sistemas podem dificultar o emagrecimento. O ideal é investigar em consulta médica e tratar doenças específicas quando necessário, além de adotar hábitos que naturalmente equilibram os hormônios, como sono de qualidade, alimentação adequada e prática regular de exercícios."
🎯 A força do hábito
A mudança desse cenário vem como resultado de uma série de hábitos em busca de uma vida mais saudável, que permeiam todos os aspectos da rotina, como alimentação, sono regulado e exercícios físicos.
No entanto, no caso de crianças e adolescentes, atingir a disciplina necessária para seguir com esses objetivos pode ser mais difícil e deve ser incentivada pelos pais e responsáveis.
"O ambiente doméstico tem enorme impacto no peso e na saúde. Planejar as compras, evitando alimentos ultraprocessados, fazer refeições em família e dar bons exemplos são estratégias poderosas. As crianças tendem a imitar os pais, e, se elas veem os adultos praticando atividade física, passam a encarar isso como algo natural", esclarece o médico.
Thiago Viana, médico do esporte e nutrólogo de Bauru (SP)
Divulgação
Além disso, segundo o médico do esporte, o exercício físico é um grande aliado nesse processo, pois aumenta o gasto calórico, melhora a sensibilidade à insulina, regula hormônios ligados à fome e reduz o risco de doenças associadas, como diabete e hipertensão.
"Pessoas ativas tendem a ter menos episódios de fome emocional, até uma caminhada de 30 minutos ajuda a controlar o estresse e facilita escolhas alimentares melhores", ressalta Thiago.
Além disso, Renata finaliza com um conselho aos pais que estão passando por esse momento de adequação de rotina:
"Uma estratégia que eu costumo passar para os pais dos meus pacientes é que sejam utilizadas gincanas com premiações. Não precisam ser prêmios de alto valor, mas, sim, simbólicos. Algo que represente essa conquista da criança, como escolher o próximo passeio, ganhar um adesivo colecionável, uma atividade divertida no final de semana. Essas pequenas recompensas ajudam e tornam o processo mais leve e prazeroso para a criança, e isso é muito motivador", finaliza.
Casos de sobrepeso e obesidade infantil crescem em Bauru e Marília
Reprodução
*Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora
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