Por que mortes violentas cresceram em Ceará, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo em 2024
25/07/2025
(Foto: Reprodução) Feminicídios e mortes de crianças crescem no Brasil em meio a queda de assassinatos
Ceará, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo são os estados que tiveram piora na taxa de mortes violentas a cada 100 mil habitantes em 2024, segundo os dados do Anuário da Segurança, divulgado na quarta-feira (24) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
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🔍 São consideradas mortes violentas os assassinatos – homicídios dolosos (com intenção de matar), latrocínios e lesões corporais seguidas de morte –, as mortes de policiais e as mortes cometidas por policiais.
Esses aumentos fizeram com que Ceará, Maranhão e Minas Gerais piorassem no ranking de estados mais violentos do país.
O Ceará era 5º mais violento em 2023. Agora, é o 3º.
O Maranhão era o 12º, passou a 6º mais violento.
Minas Gerais era o 24º mais violento; passou a 23º.
São Paulo permanece em 27º – o menos violento, portanto – mas, agora, com uma taxa mais parecida com a de Santa Catarina (veja no infográfico abaixo).
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Veja por que as mortes violentas cresceram nesses quatro estados
O Ceará teve 308 assassinatos, três policiais mortos e 45 mortes cometidas por policiais a mais em 2024, em comparação com 2023. Disputas entre facções são o principal fator da alta, segundo a pesquisadora do Fórum Samira Bueno (leia mais detalhes abaixo). O governo Elmano de Freitas (PT) diz que faz os investimentos necessários e que aumentou a presença policial nas ruas).
Minas Gerais teve mais 164 assassinatos, duas mortes de policiais e 63 mortes pela polícia na comparação com 2023. No estado, o Fórum destaca o crescimento da violência policial e o atribui à morte de um agente. O governo Romeu Zema (Novo) diz que em 2025, os crimes violentos têm diminuído.
No Maranhão, foram mais 218 assassinatos 14 mortes cometidas por policiais a mais entre 2023 e 2024. Houve uma morte de policial a menos. O Fórum também atribui a alta a facções criminosas. O governo Carlos Brandão (PSB) diz que, em 2025, os assassinatos têm caído.
São Paulo teve queda nos assassinatos – foram 98 a menos em 2024 – mas, as mortes pela polícia dispararam: foram 309 a mais. Houve também mais três mortes de policiais. O estado foi o que teve a maior alta na letalidade policial. O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que a violência policial diminuiu em 2025, e que todos os casos são investigados.
Veja, abaixo, a análise do Fórum sobre cada um desses estados, e as respostas completas dos governos estaduais.
Infográfico - Ranking de violência nos estados em 2024
Arte/g1
Dinâmicas específicas em cada estado
Segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança, algumas particularidades explicam o crescimento das mortes violentas nestes estados.
Além do aumento das mortes por policiais em SP, que pesaram no total de mortes violentas, a pesquisadora destaca uma mudança histórica desses casos em MG e os conflitos de facções no Ceará e no Maranhão.
Veja as explicações abaixo:
São Paulo
"O que efetivamente impulsiona o aumento das mortes são as mortes por intervenção policial porque a gente está falando de 300 vítimas a mais de um ano para o outro. Isso pesou bastante no âmbito geral", afirma.
Minas Gerais
"Minas Gerais teve um crescimento nos homicídios dolosos, não é o único indicador a crescer e que contou nas mortes violentas. Podemos destacar que houve crescimento da mortalidade da polícia em MG muito elevado, o segundo maior do país, só perde pra São Paulo. Historicamente, Minas não tem taxas de mortalidade da polícia tão grandes, como acontece em SP e RJ, por exemplo", diz Samira Bueno.
Ceará
"O crescimento se deve, principalmente à guerra de facções que está instalada. A gente tem três municípios do estado que aparecem entre os mais letais do país e há disputas muito claras entre facções locais e facções ligadas ao Comando Vermelho", argumenta a especialista.
Maranhão
"Cresce um pouco a morte da intervenção policial, mas não é isso que que foi preponderante. A gente está falando realmente de um aumento dos outros índices, mas há a maior suspeita de que também tenha a ver com os conflitos entre criminosos, que é algo que o estado passou a sofrer muito recentemente e é um cenário vivido por outros estados vizinhos", afirma a diretora do FBSP.
O que dizem os estados
Ceará:
"A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informa que o Governo do Ceará segue realizando investimentos para dar o suporte necessário ao desenvolvimento dos trabalhos das forças de segurança com o intermédio dos setores de inteligência, tecnologia e inovação.
A pasta frisa que como resultado dos esforços das Forças de Segurança estaduais e as mudanças no direcionamento de estratégias com a intensificação da presença policial nas ruas, a partir do segundo semestre de 2024, o Ceará, Fortaleza e a Região Metropolitana tiveram diminuição nos índices de mortes violentas, tanto em comparação com o primeiro semestre de 2024, quanto em comparação com o segundo semestre de 2023.
A união do trabalho ostensivo, investigativo, o suporte da inteligência, aliado aos investimentos do Governo do Ceará na Segurança Pública são determinantes para o alcance dos resultados positivos. Em março deste ano, para descentralizar, otimizar e intensificar serviços, o governador Elmano de Freitas sancionou decretos para a reestruturação de todas as Forças de Segurança estaduais."
Maranhão
"A Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-MA) informa que os dados divulgados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública se referem ao ano de 2024, em comparação com 2023, e que dados atuais mostram a diminuição da criminalidade no estado. No primeiro semestre de 2025, por exemplo, houve queda de aproximadamente 6% nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI); 20% nos casos de latrocínio e de 6% nos homicídios.
Considerando apenas o mês de junho, os CVLIs no estado caíram cerca de 24% em relação a junho de 2024; os homicídios dolosos tiveram retração de 26,6%. Em Junho, na Ilha de São Luís, os feminicídios diminuíram 42%; e em São Luís, também no mês de junho, os homicídios dolosos recuaram 6%.
A SSP destaca que elevação dos crimes violentos e mortes violentas no ano de 2024, portanto, em ano anterior, apontada pelo mapa no período, está diretamente relacionada a conflitos entre facções criminosas, e que as ações integradas das forças de segurança e os investimentos Governo do Estado na área têm contribuído para a reversão desses índices."
Minas Gerais
"O Anuário Brasileiro de Segurança Pública destaca que Minas Gerais permanece entre as unidades federativas com as menores taxas de Morte Violenta Intencional do país, mais precisamente na quinta posição nacional. Ainda, ocupa a segunda menor posição da região sudeste, com uma taxa proporcional (por grupo de cem mil habitantes) de 15,1, atrás apenas de São Paulo.
O Governo de Minas destaca que as políticas públicas de segurança são prioridades da gestão. A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública e as forças policiais estão debruçadas na complexa análise da dinâmica criminal do estado, trabalhando de forma integrada e interagências de Inteligência para desarticular a atuação de grupos criminosos, cuja atuação interfere diretamente nos dados de mortes violentas.
Cabe destacar, ainda, que o estado segue sem aparecer no ranking de cidades mais violentas do país e é um dos estados mais seguros da federação. Dados do Observatório de Segurança Pública/Sejusp mostram que o número de crimes violentos está em queda em Minas Gerais quando comparados os dados do primeiro semestre de 2024 com o primeiro semestre deste ano: passando de 15.598 crimes para 13.317, uma redução de 14%. Na série histórica, o estado saiu de 40.723 crimes violentos no primeiro semestre de 2012 para 13.317 no primeiro semestre de 2025 - uma redução de 67%."
São Paulo
"São Paulo é o estado com a menor taxa de homicídios do país, segundo o próprio Fórum Brasileiro da Segurança Pública. O número de ocorrências dessa natureza é o menor desde 2001, quando os casos passaram a ser contabilizados. Os casos de latrocínio também estão em queda, com redução de 26,5% no acumulado do ano. Os resultados demonstram o trabalho integrado das forças de segurança do Estado.
Os casos de Morte Decorrente de Intervenção Policial (MDIP) também estão em queda e já apresentaram uma redução de 3,86% nos primeiros cinco meses do ano ante o mesmo período de 2024. Todos os casos dessa natureza são investigados pelas corregedorias das polícias Civil e Militar, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário."