Pressionado, Israel volta a permitir ajuda humanitária aérea em Gaza; palestinos enfrentam 'fome em massa'
25/07/2025
(Foto: Reprodução) Crianças desnutridas recebem tratamento em hospital de Gaza, ONU fala em crise humanitária
Em meio à crise humanitária grave na Faixa de Gaza, Israel vai permitir que países estrangeiros voltem a lançar ajuda humanitária aérea aos palestinos a partir desta sexta-feira (25), segundo a rádio do Exército israelense, com base em um oficial militar.
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A ajuda aérea em Gaza já foi permitida em outros momentos da guerra, travada no território palestino entre Israel e o grupo terrorista Hamas desde o ataque terrorista de 7 de outubro de 2023, que matou 1.200 israelenses e outros 250 foram feitos reféns.
A volta da permissão da ajuda aérea ocorre em um momento de agravamento da crise humanitária em Gaza, com crescente desnutrição e alastramento da fome entre os dois milhões de palestinos. Israel tem enfrentado um aumento de críticas e pressão internacional para que mais alimentos cheguem à população de Gaza.
A ONU descreve a atual situação como um "show de horrores", e mais de 100 ONGs especializadas denunciam "fome em massa" no território. Relatos de fome extrema e generalizada se tornaram mais frequentes, e pelo menos 45 pessoas morreram de fome em Gaza desde o início desta semana, segundo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês).
Um vídeo divulgado pela agência Reuters na quinta-feira (24) mostrou crianças palestinas atendidas com desnutrição severa em um hospital de Khan Younis, em Gaza. Veja aqui.
Por que a população de Gaza não está recebendo a ajuda de que tanto precisa?
Criticada pelo modelo de distribuição de ajuda humanitária adotado em Gaza, o governo Netanyahu culpa a ONU e o grupo terrorista Hamas por impedir que os alimentos cheguem à população palestina. A ONU e ONGs afirmam que são impedidos de operar em Gaza, e que um sistema humanitário adequado é boicotado por Israel. (Leia mais abaixo)
Os lançamentos aéreos não são o método mais indicado para a ajuda humanitária, porque eles têm um impacto limitado e não é garantido que realmente cheguem à população local, segundo especialistas. A ONU afirma que a melhor forma de acudir os palestinos é removendo todos os bloqueios terrestres à entrada de ajuda.
Fome extrema em Gaza
Reuters e AFP
O World Food Program, que é um braço das Nações Unidas, disse esta semana que a crise de fome em Gaza atingiu “novos e surpreendentes níveis de desespero, com um terço da população sem comer por vários dias seguidos”. Na quarta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que 21 crianças de até cinco anos morreram de desnutrição em 2025.
"'As pessoas em Gaza não estão nem mortas nem vivas, são cadáveres ambulantes': disse-me um colega em Gaza nesta manhã", disse Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, na quinta-feira (24).
"Enquanto isso, de acordo com as últimas descobertas da UNRWA: uma em cada cinco crianças está desnutrida na cidade de Gaza, com o número de casos aumentando a cada dia [...]. A maioria das crianças atendidas por nossas equipes está fraca e corre alto risco de morrer se não receber o tratamento de que necessita urgentemente."
A guerra em Gaza foi deflagrada em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas invadiram o território israelense, o que resultou na morte de 1.219 pessoas.
A operação militar de Israel em Gaza matou mais de 59.100 palestinos, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
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Israel diz que ONU se recusa a distribuir ajuda
O Exército de Israel negou que estivessem bloqueando a entrada de ajuda humanitária no território palestino, afirmando que 950 caminhões com ajuda estavam no lado de Gaza da fronteira, aguardando a coleta e distribuição por organizações internacionais.
"Centenas de caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza com a aprovação de Israel, mas os suprimentos estão parados, sem serem entregues. O motivo? A ONU se recusa a distribuir a ajuda. O Hamas e a ONU impedem que a ajuda chegue aos civis em Gaza. O mundo merece saber a verdade", disse o governo israelense.
A ONU afirma que não tem como confirmar as explicações dadas por Israel, pois seus agentes não tiveram permissão para acompanhar as travessias com ajuda humanitária.
"Apesar de nossos repetidos pedidos, Israel não permitiu a presença da ONU nas travessias, que são áreas militarizadas", disse Jens Laerke, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários.
Crianças palestinas esperam por uma refeição em uma cozinha de caridade na área de Mawasi, em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 22 de julho de 2025
AFP
Gaza Humanitarian Foundation
Desde o fim de maio, quando Israel reabriu as fronteiras de Gaza para a entrada de ajuda humanitária após meses de fornecimento interrompido, a distribuição de alimentos tem sido feita por uma organização chamada Gaza Humaniarian Foundaton (GHF).
A fundação é criticada pela ONU e outras agências humanitárias por suas origens obscuras e falta de experiência em crises semelhantes.
Na quarta-feira, a Gaza Humanitarian Foundation ofereceu-se à ONU e a outras organizações para "entregar toda a sua ajuda atual gratuitamente... à medida que a fome atinge um patamar crítico".
Os centros de distribuição da GHF, porém, são palco de incidentes quase diários em que palestinos são feridos e mortos por tiros disparados por forças da fundação incumbidas de garantir a ordem.
Segundo a ONU, mais de 1.000 palestinos já morreram em incidentes do tipo desde o início das operações da GHF.
"O tempo é curto. As pessoas estão morrendo de fome", disse o presidente executivo da fundação, Johnnie Moore.
A Fundação Humanitária de Gaza afirma ter entregue quase 1,5 milhão de caixas de alimentos em Gaza.
A ONU e os principais grupos de ajuda humanitária se recusaram a trabalhar com a Fundação Humanitária de Gaza devido a preocupações de que ela tenha sido projetada para atender a objetivos militares israelenses e violar princípios humanitários básicos.
A porta-voz da UNRWA, Juliette Touma, disse na terça-feira que a agência da ONU para refugiados palestinos tinha 6.000 caminhões de alimentos e medicamentos em espera na Jordânia e no Egito, mas não estava autorizada a levar ajuda para Gaza desde 2 de março.
Embora o GHF tenha montado quatro pontos de distribuição, "a ONU e os humanitários tinham 400" antes de estes serem fechados em março por Israel, observou ela.