Um ano de reconstrução no RS: moradores ainda lutam para retomar a rotina em cidades atingidas pelas enchentes
20/04/2025
(Foto: Reprodução) Famílias inteiras precisaram deixar suas casas para trás, cidades precisaram se reinventar e governos seguem buscando soluções. Saiba como cidades e moradores se recuperam da enchente 1 anos depois
As enchentes do Rio Grande do Sul não terminaram quando a água baixou. Para quem perdeu familiares, pertences ou a própria moradia, as marcas da tragédia continuam presentes.
📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp
O período da reconstrução do RS está apenas começando, segundo moradores ouvidos pelo RBS.Doc, 1 Ano da Enchente no RS, exibido no sábado (19). O desafio dos próximos anos é reparar os danos e garantir que a tragédia não se repita.
🗓️O RS foi atingido por uma enchente histórica em maio de 2024, que provocou danos em quase todos os municípios, devastou cidades principalmente da Região Metropolitana e Vale do Taquari, retirou milhares de casa e deixou 183 mortos, além de 27 desaparecidos. De todo o país, voluntários e doadores se mobilizaram para prestar ajuda aos atingidos.
Um ano após a tragédia, a RBS TV apresenta um documentário revisitando as histórias da enchente. A equipe conversou com pessoas afetadas, voluntários, moradores que perderam tudo e familiares de vítimas. Nos locais atingidos, encontrou exemplos de solidariedade e união, que fizeram com que o estado se reerguesse após a devastação.
Sem ter pra onde ir
Milene Bertol é uma entre as quase 100 mil pessoas que perderam suas casas. Ela e seus três filhos passaram por sete abrigos em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, em apenas um ano. "Sem rumo. Sem privacidade nenhuma", descreve.
"Tu não pode fazer uma comida, não tem um espaço pra dormir tranquilo, não pode assistir um programa com os teus filhos", conta.
Sua antiga casa no bairro Rio Branco está condenada. “É muito triste voltar aqui de novo e ver tudo assim. A gente morou aqui a vida inteira", afima.
A poucos quilômetros de onde Milene está, no bairro Estância Velha, novas casas estão de pé. Algumas têm móveis, mas nenhuma está conectada à rede de água e esgoto.
"Estamos conversando, ajustando os detalhes, para que no dia 31 esteja completo. E temos um acordo com o governo do Estado para, no dia 1º de maio, as pessoas serem colocadas nessas moradias temporárias. E, quando tivermos os empreendimentos imobiliários que estão em andamento, nós colocamos as pessoas definitivamente nesses locais", explica o prefeito de Canoas, Airton Souza.
Novo bairro do Vale do Taquari
O Vale do Taquari se recupera de múltiplas tragédias. A região já havia sido atingida por uma forte cheia em 2023 e voltou a ser devastada em maio de 2024. Muçum foi uma das cidades mais prejudicadas: quase todo território submergiu. O retorno às regiões próximas ao rio Taquari está proibido pelas forças de segurança.
Como resposta, a cidade ergueu um novo bairro em uma área mais alta e segura. Lá, 13 casas de madeira já abrigam novas histórias. Para ter direito à nova moradia, os antigos moradores precisaram doar suas antigas propriedades, uma forma de evitar a reocupação de áreas de risco.
"Essa é uma ação que também é adotada para evitar que essas áreas sejam reocupadas e a gente possa ter os mesmos problemas no futuro", explica Mateus Trojan, prefeito de Muçum.
Loreci de Almeida, uma das novas moradoras, descreve o alívio de viver longe da ameaça constante das águas.
“A paz, o sossego, não têm preço. Saber que tu vai comprar um móvel e ele vai ficar ali. Porque a gente comprava antes, mas a gente não sabia quanto tempo ia durar aquele móvel. Agora não, agora a gente pode ter o sossego", desabafa.
Novas casas construídas no Vale do Taquari
Reprodução/RBSTV
Estruturas destruídas
Rodovias, pontes, acessos: nada escapou da água. Mais de 13 mil quilômetros de estradas foram afetadas — uma distância que, em linha reta, chegaria até a Austrália.
A BR-386, entre Estrela e Lajeado, ficou bloqueada. Só dias depois, com a queda do nível do rio, a travessia foi reaberta para pedestres.
De acordo com a Associação dos Municípios do Vale do Taquari (AMVT), um dos locais mais atingidos pela água, as enchentes de 2023 e 2024 destruíram pelo menos 80 ligações e pequenas pontes na região.
Dessas, dez serão reconstruídas pela iniciativa privada. Uma delas foi entregue em março, na localidade de Palmas, no município de Encantado e já está em funcionamento.
Segundo a AMVAT, as novas estruturas têm custo de cerca de R$ 800 mil cada uma. As prefeituras de cada município farão a ligação das vias — custo aproximado de R$ 60 mil — e cada terá 12m de comprimento e capacidade para 45 toneladas.
Outras novas serão inauguradas, nos municípios de Anta Gorda, Arroio Do Meio, Coqueiro Baixo, Doutor Ricardo, Encantado, Ilópolis, Pouso Novo, Putinga, Relvado e Travesseiro.
Na Serra, uma nova ponte em Santa Tereza foi construída e entregue em março. A estrutura é uma alternativa à travessia levada pelo Arroio Marrecão no dia 30 de abril do ano passado. A cena viralizou, pois a prefeita, Gisele Caumo, gravava um vídeo exatamente no momento da destruição da ponte. Relembre abaixo.
Ponte é levada pela água durante gravação de prefeita no RS
Ponte destruída pela enchente de 2024 na Região dos Vales do RS, em Lajeado, foi reconstruída
Governo do RS/Divulgação
VÍDEOS: Tudo sobre o RS
No Vale do Taquari, casas inteiras foram destruídas pela água
Reprodução/RBSTV